Direito de imagem Thinkstock Image caption Ainda inicipiente mas já com a imagem arranhada por promoções enganosas, Black Friday tenta resgatar credibilidade
O administrador de empresas Wilden Nunes Junior, de 32 anos, mudou de casa há duas semanas, mas ainda não tem um eletrodoméstico sequer. Preferiu esperar a chamada Black Friday, o dia de promoções especiais importado pelo comércio brasileiro dos Estados Unidos há quatro anos.
Mas Nunes não está certo de que equipará a cozinha e a sala pagando menos, como pretende. “Estou desconfiado, porque não tive nenhuma experiência com outras edições. Como dizem que é uma farsa, preciso ver pra crer”, diz.
“Vou acabar comprando de qualquer jeito. Se os produtos não estiverem mais baratos, o único prejuízo será ter atrasado minhas compras em 15 dias. A não ser que fiquem mais caros, o que seria absurdo. Mas achei que valia a pena correr o risco.”
Muitos consumidores estão na mesma situação. A Black Friday, o dia seguinte ao Dia de Ação de Graças, é tradicionalmente um dia de descontos no varejo americano.
O nome Black Friday, que em inglês significa literalmente “Sexta-Feira Negra”, faz mais sentido traduzido para o português como “Sexta-Feira Azul”, pois o feriado (nos EUA), pois passou a denotar o momento em que as lojas aproveitam para sair do vermelho e passar a registrar lucro.
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No Brasil, uma pesquisa do site de comparação de preços Zoom com 10 mil pessoas mostrou que 99% dos entrevistados pretendem ir às compras no próximo dia 28, mas 41% não acreditam que encontrarão descontos reais.
A desconfiança vem da própria experiência do brasileiro com a Black Friday. Tornaram-se comuns reclamações por promoções enganosas e problemas técnicos dos sites participantes.
Versão brasileira
Nos últimos anos, a Black Friday foi adotada pelo varejo em outros países, como Reino Unido, Austrália, México, Romênia, Costa Rica, Alemanha, Áustria e Suiça, para marcar o início da temporada de compras de Natal.
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No Brasil, as promoções foram realizadas pela primeira vez em 2010, ainda de forma tímida, movimentando R$ 3 milhões em vendas, segundo levantamento da consultoria ClearSale, e cresceram exponencialmente desde então.
No ano passado, o volume movimentado pelos produtos vendidos saltou para R$ 424 milhões – quase o dobro do registrado em 2012, quando o montante já havia sido 117% superior ao de 2011.
Junto com o aumento das vendas, também se multiplicaram os problemas. O site Reclame Aqui recebeu no ano passado 8,5 mil reclamações por causa da Black Friday, 6,2% a mais do que em 2012.
Do total, 27% eram relativas à maquiagem de preços, nome dado à prática de elevar o valor de um produto poucos dias antes da data da promoção para oferecer então um “desconto” em que o preço cobrado é igual ou até mesmo superior ao valor não-promocional.
Em 2013, uma pesquisa do Programa de Administração de Varejo, um centro de estudos em consumo, e da Íconna, empresa de monitoramento de comércio eletrônico, mostrou que o número de produtos que ficaram mais caros na Black Friday foi maior do que o dobro daqueles que receberam descontos.
Após o fim do evento, 22,6% das mercadorias oferecidas com “ofertas” tiveram seus preços reduzidos.
‘Black Fraude’
- Pesquise preços com antecedência e acompanhe sua evolução para saber se o produto desejado está de fato mais barato no dia da promoção;
- Se não tiver feito esse acompanhamento, é possível pesquisar o histórico de preços de um produto em determinada loja por meio dos sites Busca Descontos, Zoom, Shopping UOL e Buscapé;
- Tenha em mente que muitos dos produtos do site não estarão em oferta. Aqueles com preços promocionais são anunciados pelas lojas;
- Busque pelo selo “Black Friday Legal”, criado pela Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico. Isso sinaliza que a loja se comprometeu à cumprir um código de ética que proíbe a maquiagem de preços.
- Uma prática comum é a criação de lojas virtuais falsas, em que o consumidor compra o produto e paga por ele por meio de boleto bancário ou depósito em conta, mas nunca o recebe.
- O Procon-SP mantém uma lista com 450 sites a serem evitados por consumidores por terem sido alvo de reclamação e não responderam à notificação, ou seus responsáveis não foram encontrados;
- Se tiver algum problema, documente o processo de compra e a falha – fotografando ou fazendo uma cópia da página do site, por exemplo – para que depois possa receber assistência de entidades de defesa do consumidor.
Não por acaso a data acabou sendo apelidada nas redes sociais de “Black Fraude”: a data em que, segundo a piada, os produtos “custam a metade do dobro”.
“Muita gente também se queixou de produtos que se esgotaram nos primeiros minutos da sexta-feira, mostrando que o produto em oferta era apenas um chamariz para os sites”, diz Diego Campos, diretor de operações do Reclame Aqui.
Outro problema recorrente foram as falhas técnicas nos sites, responsáveis por 21% das mensagens enviadas ao Reclame Aqui no ano passado. Consumidores protestaram, porque os sites ficavam lentos, ou eles eram colocados em filas de espera sem que nunca chegasse sua vez.
Quando tinham acesso à página, o produto escolhido sumia do carrinho de compras virtual antes de finalizar a compra ou não conseguiam pagar por ele.
“Nas últimas duas edições, boa parte das pessoas que tentaram se frustraram, e isso se reflete no alto índice de desconfiança das pessoas em relação à Black Friday hoje em dia.”
No entanto, Campos está otimista e acredita que a maquiagem de preços não será praticada, ao menos entre as principais marcas do varejo nacional.
“Em 2012, todos os grandes varejistas deram descontos falsos, mas houve menos queixas quanto a isso no ano passado. Esperamos que neste ano isso não aconteça, porque há muita vigilância sobre estas empresas. Não acredito que cometerão um erro tão primário”, afirma ele.
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Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/11/141124_black_friday_brasil_rb